22/06/2007

Mino Carta, Lamarca e a mídia sabuja



[O nome de Lamarca foi 'banido' do Colégio Militar de Porto Alegre, onde ele estudou; mas foi recolocado depois]
Sobre Carlos Lamarca e a ditadura que nos foi imposta, em 1964, com apoio da grande mídia, escreveu Mino Carta:
"Jornal do País não leio, revista semanal também, Jornal Nacional não assisto.
Há quem me informe a respeito, a me chamar a atenção para texto ou tela escolhidos.
Somente hoje li o editorial da Folha de sexta-feira passada, intitulado "O caso Lamarca".
E o editorial do Estadão de sábado, intitulado "Prêmio ao facínora desertor".
E um brevo texto da última edição de Veja, intitulado "O Bolsa-Terrorismo".Segundo a Folha, a decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça representa um prêmio à deserção, a qual, se bem interpreto, justificaria o fuzilamento.
É da percepção até do mundo mineral que Lamarca não foi desertor.
Se quiserem, amotinado.
A quem sustenta que a pena de morte se condiz a desertores, sugiro, em dias de lazer, a visão de um filme de Stanley Kubrick, Glória Feita de Sangue.
Conta uma história de deserção da Primeira Guerra Mundial.
Segundo o Estado, o propósito de Lamarca desertor, terrorista, torturador e assassino, era implantar no Brasil uma ditadura mais cruel e liberticida do que a que desabara sobre nós com o golpe de 1964.
O jornal chega a evocar com simpatia adversários do regime militar que "contribuíram para o processo de redemocratização" e define como "memorável" o movimento das Diretas Já.
Esquece ter implorado o golpe e condenado o movimento.
A Veja atinge o paroxismo. Lamarca "foi morto em combate por militares que cumpriam o dever de detê-lo", mas o "terrorista" é agora "transubstanciado" em mártir nacional.
Papa Ratzinger gostaria deste verbo, transubstanciar. Quanto à comissão de anistia, "parece movida pela ideologia de esquerda". Em geral, os editoriais e o artiguete de Veja evidenciam o sabujismo tradicional em relação às Forças Armadas. E algo mais.
A forma e o conteúdo, o tom e a letra, mostram que o tempo não passou.
Não se trata de tomar o partido da ditadura ou de Lamarca.
Bastaria, quem sabe, admitir que este foi resultado daquela. E que a ditadura, a ser condenada in limine por espíritos autenticamente democráticos, foi um monstruoso passo atrás na história brasileira, pelo qual pagamos até hoje.
Ocorre, porém, a julgar pelas reações da chamada grande imprensa, que os chavões oligárquicos continuam alerta.
Só falta convocar a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade."

postado em: http://viomundo.globo.com/site.php?nome=Bizarro&edicao=969

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