Se um marciano chegasse no começo de janeiro de 2008 ao Brasil e começasse a ler o que estava saindo nos grandes jornais nacionais ou assitir e ouvir o noticiário das emissoras de televisão e rádio, em poucos dias formaria a seguinte opinião sobre o país:
1. O presidente da República não passa de um fanfarrão corrupto, cuja popularidade só pode ser negativa. A oposição, em franca ofensiva política, já deveria estar preparando os termos de um pedido de impeachment.
2. A economia do país estava em vias de sofrer uma verdadeira hecatombe por causa de uma gravíssima crise nos Estados Unidos que já ameaça devastar o sistema capitalista e acabar com a oferta de crédito no sistema financeiro internacional.
Permanecendo no Brasil, o marciano começaria a circular pelo país, a conversar com as pessoas, ouvir a tal voz rouca das ruas de que falava um ex-presidente de triste memória. Em pouco tempo, certamente começaria a achar estranho que quase tudo o que sai na imprensa tupiniquim não corresponde muito bem ao que ele consegue apreender no contato com a população e na observação dos fenômenos da economia local.
Em fevereiro, o marciano começa a desconfiar que a mídia brasileira é um tanto esquizofrênica, pois começa a ler notícias sobre a altíssima popularidade do presidente da República e uma sequência de excelentes notícias para a economia nacional: geração recorde de empregos, aumento vertiginoso na venda de automóveis, fim da dívida externa do país, a moeda nacional apreciando e os mercados financeiros bastante animados.
Alguém já disse que entender o Brasil não é tarefa para amadores. De fato, nada por aqui é muito fácil. Como explicar, tendo em vista o efusivo apoio da imprensa, o absoluto fracasso da oposição na campanha que vem sendo realizada desde a primeira posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, para colar nele a pecha de corrupto, inepto, beberrão e ignorante? Como explicar que, a despeito de todo o esforço que a mídia brasileira tem realizado para reduzir as expectativas dos brasileiros no sucesso do país, este entusiasmo com o crescimento siga tão inabalável, de maneira a fazer a economia girar com novos investimentos, contratação de mão de obra e uma firme aposta no desenvolvimento do mercado interno?
A má vontade da imprensa brasileira com o governo Lula já é parte da história do Brasil, embora esta história não esteja ainda escrita, é claro. No futuro, os pesquisadores terão nos jornais uma excelente fonte para entender o comportamento de uma elite que resiste a largar o osso. O preconceito contra o presidente-operário, a negação de que qualquer fato positivo no país possa ter a mais remota relação com atos do governo, tudo isto ainda vai ser objeto de exame mais detido pelos futuros historiadores, mesmo porque ainda há muito por vir sob a presidência de Lula. De qualquer forma, a marca mais forte do governo Lula até agora parece mesmo ser o fracasso das oposições e da imprensa em tentar jogar o povão contra o presidente. Mas este é um jogo que continua em curso.
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