Mauro Santayana
Os líderes da oposição conservadora – do antigo PFL, antigo PDS, antiga Arena, ainda mais antiga e golpista UDN – que hoje se identificam como democratas, argumentam que Lula faz campanha eleitoral antes do tempo e pretendem apresentar queixa ao TSE contra o presidente da República. Ao TSE cabe admiti-la, ou não, de acordo com a lei. Se, por hipótese, aceitá-la, cabe ao presidente recorrer ao STF. Seu propósito é o de buscar o desgaste do presidente, mediante ataques sistemáticos. Não a incomoda o que o presidente diz aqui ou ali, em reuniões restritas, ou em remotos municípios do Nordeste.
O que a irrita é a crescente popularidade do governo e do chefe de Estado, aferidas pelas pesquisas de opinião. Os homens públicos normalmente se acautelam com essas sondagens. Não sendo ciência exata, mas, sim, uma práxis, a atividade política está submetida às circunstâncias, e as circunstâncias mudam sem aviso prévio. Imprevisíveis dificuldades podem alterar, de uma hora para outra, a situação atual, e fazer decair o prestígio do governo e do presidente.
Para muitos observadores isentos, a popularidade do governo e do presidente não tem sido resultado de factóides – para usar o neologismo preferido do senhor Cesar Maia –, mas do início do processo de planejada redistribuição de renda, e de retomada dos investimentos públicos, como estímulo ao desenvolvimento econômico e social do país.
Os oposicionistas admitem que o presidente é socorrido pela sorte – e lhe negam as virtudes de comando. Em sua avaliação, o governo está dando certo à revelia de seu chefe. É como se as coisas surgissem por milagre, e não pela decisão do poder. Ainda que se admita a sorte como fator político, por que ver nela valor negativo? É melhor o bom governante que tenha sorte do que outro que não goze desse privilégio dos deuses ou do acaso. Outro argumento de que se valem – o de que o presidente cavalga situação internacional favorável – não o diminui. Ele, pelo menos, sabe cavalgá-la.
Lula consolida e amplia o apoio da maioria dos brasileiros a uma reforma social tanto mais ampla quanto mais pacífica. Durante séculos, as oligarquias nacionais impediam o povo de ter consciência de seus direitos. Ao negar aos pobres a educação e a informação, os oligarcas os mantinham atados ao eito e à servidão eleitoral.
Os pequenos favores, na hora da doença e da morte em família, eram depois pagos pelos pobres com votos. A literatura política brasileira é rica em estudos sobre essa opressão histórica, e tem no livro de Vitor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto, a obra mais lúcida e mais bem documentada. As oligarquias mantinham o poder nas três esferas do Estado e se nutriam dos recursos públicos para a reprodução familiar dos privilegiados; nos créditos do Estado; nas carreiras burocráticas; no comando da vida nacional.
Lula, ao ampliar os programas sociais, com o cartão bancário substituindo as recomendações dos chefetes locais, rompeu a velha correia de transmissão. Os pobres dependem da entidade anônima que é o Estado, não dependem mais dos caciques municipais. Mais do que obter a segurança do almoço, eles se livraram da humilhação de pedir, e do constrangimento de receber. Não devem favores, recebem o que o Estado lhes entrega como direito. Argumenta-se com o velho provérbio que aconselha ensinar a pescar em lugar de oferecer o peixe. Mesmo para que o aprendiz possa preparar a vara e armar o anzol, é preciso comer antes. Por isso mesmo o número de novos empregos formais quase decuplicou nos últimos cinco anos. Os programas sociais dinamizaram a economia.
Os democratas devem assumir, sinceramente, que se contrapõem a essa promoção social e econômica dos pobres. É seu direito, como porta-vozes de setores minoritários da classe média, incomodados com os recém-chegados ao condomínio – que supunham fechado para sempre.
O que a irrita é a crescente popularidade do governo e do chefe de Estado, aferidas pelas pesquisas de opinião. Os homens públicos normalmente se acautelam com essas sondagens. Não sendo ciência exata, mas, sim, uma práxis, a atividade política está submetida às circunstâncias, e as circunstâncias mudam sem aviso prévio. Imprevisíveis dificuldades podem alterar, de uma hora para outra, a situação atual, e fazer decair o prestígio do governo e do presidente.
Para muitos observadores isentos, a popularidade do governo e do presidente não tem sido resultado de factóides – para usar o neologismo preferido do senhor Cesar Maia –, mas do início do processo de planejada redistribuição de renda, e de retomada dos investimentos públicos, como estímulo ao desenvolvimento econômico e social do país.
Os oposicionistas admitem que o presidente é socorrido pela sorte – e lhe negam as virtudes de comando. Em sua avaliação, o governo está dando certo à revelia de seu chefe. É como se as coisas surgissem por milagre, e não pela decisão do poder. Ainda que se admita a sorte como fator político, por que ver nela valor negativo? É melhor o bom governante que tenha sorte do que outro que não goze desse privilégio dos deuses ou do acaso. Outro argumento de que se valem – o de que o presidente cavalga situação internacional favorável – não o diminui. Ele, pelo menos, sabe cavalgá-la.
Lula consolida e amplia o apoio da maioria dos brasileiros a uma reforma social tanto mais ampla quanto mais pacífica. Durante séculos, as oligarquias nacionais impediam o povo de ter consciência de seus direitos. Ao negar aos pobres a educação e a informação, os oligarcas os mantinham atados ao eito e à servidão eleitoral.
Os pequenos favores, na hora da doença e da morte em família, eram depois pagos pelos pobres com votos. A literatura política brasileira é rica em estudos sobre essa opressão histórica, e tem no livro de Vitor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto, a obra mais lúcida e mais bem documentada. As oligarquias mantinham o poder nas três esferas do Estado e se nutriam dos recursos públicos para a reprodução familiar dos privilegiados; nos créditos do Estado; nas carreiras burocráticas; no comando da vida nacional.
Lula, ao ampliar os programas sociais, com o cartão bancário substituindo as recomendações dos chefetes locais, rompeu a velha correia de transmissão. Os pobres dependem da entidade anônima que é o Estado, não dependem mais dos caciques municipais. Mais do que obter a segurança do almoço, eles se livraram da humilhação de pedir, e do constrangimento de receber. Não devem favores, recebem o que o Estado lhes entrega como direito. Argumenta-se com o velho provérbio que aconselha ensinar a pescar em lugar de oferecer o peixe. Mesmo para que o aprendiz possa preparar a vara e armar o anzol, é preciso comer antes. Por isso mesmo o número de novos empregos formais quase decuplicou nos últimos cinco anos. Os programas sociais dinamizaram a economia.
Os democratas devem assumir, sinceramente, que se contrapõem a essa promoção social e econômica dos pobres. É seu direito, como porta-vozes de setores minoritários da classe média, incomodados com os recém-chegados ao condomínio – que supunham fechado para sempre.
Mauro Santayana é jornalista
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