15/03/2008

Inércia tem preço


Esta excelente crônica publicada no blog do Eduardo Guimarães é bem atual para os Ilheenses, quem sabe ajude a alguns entenderem por que a cidade esta onde esta e como esta.

Gerson

Era um gato gordo, lento, mas diabolicamente furtivo o que atemorizava a comunidade dos ratos. Era gordo porque devorava muitos deles. Surgia do nada, abocanhava-os e os levava para um canto, onde se dedicava a degustá-los.

O terror, o terror... Famílias inteiras de roedores tinham sido dizimadas pelo felino insaciável e furtivo. Se não conseguissem pensar numa forma de neutralizá-lo, os ratos teriam que ir embora, porque, naquele ritmo, acabariam extintos.

Uma assembléia foi convocada para discutir se haveria como lutar ou se seria melhor desistir e irem embora dali.

Das discussões do conclave dos ratos nasceu a luz. O gato gordo só conseguia pegá-los porque nunca sabiam de onde atacaria. Era preciso engendrar algum tipo de alarme que os avisasse quando o felino se aproximasse.

Os ratos pensaram em todo tipo de solução.

Alguém sugeriu que um fio muito fino, difícil de ser visto, fosse estendido em volta da área por onde teriam que circular. O fio seria amarrado a uma sineta, que seria acionada quando a fera o tensionasse, avisando-os de sua aproximação.

Outro sugeriu que um deles sempre montasse guarda para avisar o grupo sobre a aproximação do gato. Montariam guarda, em sistema de rodízio, 24 horas por dia.

E um terceiro criticou as duas idéias anteriores, mas propôs a sua.

Lembrou que o fio não funcionaria, porque, como se sabe, os gatos enxergam muito bem. Além disso, mesmo na remota hipótese de que o gato não visse os fios, depois da primeira vez em que fossem usados ele aprenderia a evitá-los.

Quanto à sentinela, o sistema era risível, pois o poder do gato estava justamente em surpreender suas vítimas. Por que a sentinela seria exceção?

A terceira proposta era a de colocarem uma sineta no próprio gato, assim sempre saberiam onde ele estava. Aliás, uma sineta, não, um guizo, aquela esfera oca de latão com bolinhas de ferro dentro que ficaria percutindo ininterruptamente.

Contudo, como é comum a assembléias, a qualquer assembléia, logo surgiu alguém para discordar:

"Mas por que vamos nos expor, nos arriscar a tomar uma atitude tão frontal, se podemos agir à distância? Podemos fazer uma rede maior de sentinelas ou de fios, mas pôr o guizo no gato é muito arriscado. A menos que o proponente da idéia queira fazê-lo..."

A assembléia dos ratos chegou à solução para o dilema que a fez reunir-se, mas, como ninguém se dispôs implementá-la, os ratos resolveram deixar sua toca de vez. Porém, jamais encontraram um lugar no qual não houvesse um gato que gostasse de saborear ratos.


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