10/03/2008

PAC de batom


Inscritas para obras em três comunidades carentes, mulheres mostram intimidade com o trabalho pesado por pura necessidade. O sonho agora das 'PAC-Quitas' é ter primeira carteira assinada.


O Dia
É pau, é pedra, é o início de um caminho. A promessa de vida que chega com o anúncio do começo das obras do PAC uniu as mulheres das regiões que receberão melhorias. Assim como, no passado, muitas pegaram no pesado para erguer suas casas, hoje as moradoras estão empenhadas em fazer o mesmo em suas comunidades, animadas ainda com a chance de trabalhar pela primeira vez com a carteira assinada.

A construção civil é, na maioria das vezes, a experiência profissional mais freqüente dessas mulheres, que respondem por 40% das 16 mil inscrições para os canteiros de obras do PAC nos complexos do Alemão e de Manguinhos e na Rocinha.

Se o trabalho de uma vida fosse medido apenas pelos registros em carteira, Sandra Maria Pinheiro, 50 anos, teria dificuldade para comprovar a história de luta. Criou os filhos e quando esperava iniciar uma etapa mais tranqüila teve de recomeçar. Ela e o marido construíram sozinhos a casa onde vivem, na Favela de Manguinhos. Depois de passar por todas as fases da obra, Sandra diz-se uma experiente servente. "A medida da massa é diferente para cada parte da construção. Na minha casa, fui eu que fiz as vigas. Só tive dificuldade para assentar o piso", conta.

As chamadas PAC-Quitas - brincadeira com as antigas assistentes de Xuxa -, esperançosas futuras operárias do PAC, enchem as ruas da CCPL em Manguinhos. Na falta de qualificação profissional, as vagas mais procuradas foram de cozinheira e ajudante de obras. "Minha carteira é em branco", conta, encabulada, Eluzia Maria da Silva, 28. O sotaque paraibano denuncia a busca de uma oportunidade no Rio, sonho que até hoje não chegou.

Apesar da empolgação com a possibilidade de conseguir o emprego, as mulheres temem pelos filhos. “O ideal seria ter uma creche na comunidade para ajudar as operárias”, observa Patrícia Luiz dos Santos, 24.

Qualificação não é problema para Rogéria Vilela, 32, moradora do Alemão. Ela vai concluir curso de construção civil até o início das obras. Sempre pôs a mão na massa. Em casa, tarefas mais difíceis são sua responsabilidade.


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