Ícone do ativismo independente, Grace Lee Boggs sugere: mais importante que votar no candidato é não entregar a ele a responsabilidade pelas mudanças
Ela participou ativamente de todos os movimentos sociais importantes em seu país, no século passado — sindicatos, igualdade racial, feminismo, ambientalismo, luta contra as guerras do Vietnã e Iraque. Aos 92 anos, continua a ser a animadora do Detroit Summer, uma iniciativa que procura “redefinir, redesenhar e reanimar” a antiga “capital do automóvel”, por meio de ações de seus cidadãos. Sua experiência, sua capacidade de propor a seus interlocutores novos desafios e sua disposição de falar sem tribuna fizeram dela uma personagem conhecida e admirada no mundo dos grassroots movements – os movimentos de base que se multiplicam pelos EUA. Não significa que seja uma outsider: seu livro autobiográfico, Leaving for Change [Viver para Mudar], é amplamente adotado, na academia, nos estudos sobre movimentos sociais, Detroit e norte-americanos de ascendência asiática (ela é filha de chineses).
Tendo lutado pela transformação social por mais de 70 anos, Grace Lee Boggs impressiona pela lucidez, bom-humor, capacidade de renovação permanentemente e desapego em relação às velhas certezas. Em entrevistas recentes, disponíveis no YouTube, afirma que continua a se sentir revolucionária, mas aprendeu a afastar a idéia de revolução da “conquista” do Estado. Acredita agora nas “ações autônomas de transformação estrutural e auto-transformação”. Vê a história de seu país marcada, no último meio século, tanto pela concentração de riqueza e poder quanto pela sucessão de movimentos humanizadores muito potentes. Acha que os grassroots movements precisam avançar. Não basta protestar, ou resistir; é preciso produzir as mudanças.
Essa ativista e pensadora não-convencional, que não crê nem em grandes líderes nem nas instituições que eles dirigem (ou pelas quais são comandados…), tem escrito artigos em que revela um entusiasmo crescente pela campanha de Barack Obama à presidência dos EUA. Ela está empolgada tanto pelo seu carisma quanto por sua disposição para contrariar a lógica que exige políticos carismáticos. Em choque direto com o discurso da representação (inclusive o de esquerda), diz Grace, Obama não se apresenta como o portador da esperança. “Estou propondo a vocês que acreditem não apenas em minha habilidade de promover mudanças em Washinton. Estou propondo que acreditem na habilidade de vocês”, disse ele num discurso recente.
Esta postura, prossegue Grace, é coerente com as origens políticas de Obama, um ativista articulador de comunidades. Já foi manifestada em 1995, quando, ao concorrer pela primeira vez para o Senado, ele teve oportunidade de formulá-la em termos teóricos: “Para que nossa agenda avance, não podemos ver os eleitores ou as comunidades como consumidores, como simples beneficiários da mudança. É hora de os políticos e outros líderes verem os eleitores, moradores ou cidadãos como produtores da mudança.O objetivo de nosso movimento deve ser a agenda completa da criação de comunidades produtivas. É aí que está nosso futuro”.
Além de atenta ao discurso de Obama, Grace tem observado com atenção as reações que ele desperta. Ela considera típicas as frases a seguir, extraídas do blog de uma jovem ativista ambiental: “Obama é o primeiro candidato presidencial que conseguiu construir uma campanha em torno da frase célebre de Gandhi, ’seja você a mudança que quer ver no mundo’. Por isso, amo seu passado de organizador. É a primeira vez que vejo alguém articular a necessidade de cada um engajar-se no processo, ao invés de vomitar retórica de velha política”.
A eventual vitória de Obama e sua capacidade de mobilização seriam suficientes para que o país mais poderoso do planeta pudesse emitir sinais positivos para a humanidade? Grace não lida com a passividade das apostas, mas com a esperança da ação. Ela faz questão de lembrar Martin Luther King e a advertência feita por ele, pouco antes de morrer: exceto no caso de uma grande revolução de valores, que superasse o racismo, o materialismo e o militarismo, os EUA seriam “tragados pelos longos, escuros e vergonhosos corredores que o tempo reserva aos que possuem poder sem compaixão, vontade sem moral e força sem visão”. Este futuro tenebroso chegou, diz ela, em referência à guerra infinita no Iraque, ao descaso com o aquecimento global, ao abismo de desigualdade que vai se abrindo na sociedade norte-americana.
Grace conclui: “Para ser parte da solução, precisamos reconhecer que somos parte do problema. Ele exige enormes mudanças, não só em nossas instituições mas também em nós mesmos. Embora sua imagem seja inspiradora, Obama sozinho não é o movimento para a mudança. Temos o direito e a obrigação de criar o projeto que queremos que ele represente. Ao invés de projetar em sua pessoa redentora o futuro que desejamos, ao invés de nos enxergar apenas como seguidores de um líder carismático, podemos e devemos ser os líderes pelos quais esperamos”.
Ela participou ativamente de todos os movimentos sociais importantes em seu país, no século passado — sindicatos, igualdade racial, feminismo, ambientalismo, luta contra as guerras do Vietnã e Iraque. Aos 92 anos, continua a ser a animadora do Detroit Summer, uma iniciativa que procura “redefinir, redesenhar e reanimar” a antiga “capital do automóvel”, por meio de ações de seus cidadãos. Sua experiência, sua capacidade de propor a seus interlocutores novos desafios e sua disposição de falar sem tribuna fizeram dela uma personagem conhecida e admirada no mundo dos grassroots movements – os movimentos de base que se multiplicam pelos EUA. Não significa que seja uma outsider: seu livro autobiográfico, Leaving for Change [Viver para Mudar], é amplamente adotado, na academia, nos estudos sobre movimentos sociais, Detroit e norte-americanos de ascendência asiática (ela é filha de chineses).
Tendo lutado pela transformação social por mais de 70 anos, Grace Lee Boggs impressiona pela lucidez, bom-humor, capacidade de renovação permanentemente e desapego em relação às velhas certezas. Em entrevistas recentes, disponíveis no YouTube, afirma que continua a se sentir revolucionária, mas aprendeu a afastar a idéia de revolução da “conquista” do Estado. Acredita agora nas “ações autônomas de transformação estrutural e auto-transformação”. Vê a história de seu país marcada, no último meio século, tanto pela concentração de riqueza e poder quanto pela sucessão de movimentos humanizadores muito potentes. Acha que os grassroots movements precisam avançar. Não basta protestar, ou resistir; é preciso produzir as mudanças.
Essa ativista e pensadora não-convencional, que não crê nem em grandes líderes nem nas instituições que eles dirigem (ou pelas quais são comandados…), tem escrito artigos em que revela um entusiasmo crescente pela campanha de Barack Obama à presidência dos EUA. Ela está empolgada tanto pelo seu carisma quanto por sua disposição para contrariar a lógica que exige políticos carismáticos. Em choque direto com o discurso da representação (inclusive o de esquerda), diz Grace, Obama não se apresenta como o portador da esperança. “Estou propondo a vocês que acreditem não apenas em minha habilidade de promover mudanças em Washinton. Estou propondo que acreditem na habilidade de vocês”, disse ele num discurso recente.
Esta postura, prossegue Grace, é coerente com as origens políticas de Obama, um ativista articulador de comunidades. Já foi manifestada em 1995, quando, ao concorrer pela primeira vez para o Senado, ele teve oportunidade de formulá-la em termos teóricos: “Para que nossa agenda avance, não podemos ver os eleitores ou as comunidades como consumidores, como simples beneficiários da mudança. É hora de os políticos e outros líderes verem os eleitores, moradores ou cidadãos como produtores da mudança.O objetivo de nosso movimento deve ser a agenda completa da criação de comunidades produtivas. É aí que está nosso futuro”.
Além de atenta ao discurso de Obama, Grace tem observado com atenção as reações que ele desperta. Ela considera típicas as frases a seguir, extraídas do blog de uma jovem ativista ambiental: “Obama é o primeiro candidato presidencial que conseguiu construir uma campanha em torno da frase célebre de Gandhi, ’seja você a mudança que quer ver no mundo’. Por isso, amo seu passado de organizador. É a primeira vez que vejo alguém articular a necessidade de cada um engajar-se no processo, ao invés de vomitar retórica de velha política”.
A eventual vitória de Obama e sua capacidade de mobilização seriam suficientes para que o país mais poderoso do planeta pudesse emitir sinais positivos para a humanidade? Grace não lida com a passividade das apostas, mas com a esperança da ação. Ela faz questão de lembrar Martin Luther King e a advertência feita por ele, pouco antes de morrer: exceto no caso de uma grande revolução de valores, que superasse o racismo, o materialismo e o militarismo, os EUA seriam “tragados pelos longos, escuros e vergonhosos corredores que o tempo reserva aos que possuem poder sem compaixão, vontade sem moral e força sem visão”. Este futuro tenebroso chegou, diz ela, em referência à guerra infinita no Iraque, ao descaso com o aquecimento global, ao abismo de desigualdade que vai se abrindo na sociedade norte-americana.
Grace conclui: “Para ser parte da solução, precisamos reconhecer que somos parte do problema. Ele exige enormes mudanças, não só em nossas instituições mas também em nós mesmos. Embora sua imagem seja inspiradora, Obama sozinho não é o movimento para a mudança. Temos o direito e a obrigação de criar o projeto que queremos que ele represente. Ao invés de projetar em sua pessoa redentora o futuro que desejamos, ao invés de nos enxergar apenas como seguidores de um líder carismático, podemos e devemos ser os líderes pelos quais esperamos”.
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