23/08/2007

O Brasil de Lula é outro


O artigo de Luiz Carlos Azenha publicado hoje em seu imperdível Vi o mundo, (link ao lado e embaixo) é uma bofetada na cara dos cansados. Azenha, que nos gostamos muito, mas agora do que antes, desmonta um dos principais argumentos usados de forma insistente pelas elites golpistas e mídia idem, que é vincular o governo Lula ao governo Chaves da Venezuela.

Desmonta também outro argumento carente de base cientifica, e demonstra que Lula tem apoio em todas as classes econômicas em todas as regiões do Brasil e da grande maioria dos brasileiros.



O Brasil não é a Venezuela. Nem será

A elite branca e golpista do Brasil - majoritariamente localizada em São Paulo - torce para que Lula se pareça cada vez mais com Hugo Chávez.
Lula não é Chávez.
Há quem ache isso bom, há quem ache isso ruim.
Acima das personalidades, porém, há de se considerar que o Brasil não é a Venezuela.
Nem será.
Na Venezuela, conforme o brilhante retrato produzido pelo Eduardo Guimarães - melhor que qualquer outro feito por jornalistas brasileiros que foram àquele país -, é oito ou oitenta.
A elite se isolou na parte baixa de Caracas, se apossou das chaves (sem trocadilho) e trancou oitenta por cento do país para fora.
Em cima disso, você tem uma clara diferença de origem entre os de baixo e os de cima.
Os de cima (do morro) são majoritariamente descendentes de indígenas, mestiços ou mulatos.
Os de baixo (do asfalto de Caracas) são majoritariamente brancos.
Além disso, a Venezuela sempre foi um país de uma empresa só, a PDVSA.
O que o Chávez está fazendo pela Venezuela é o que o Getúlio Vargas fez pelo Brasil há mais de meio século.
Comparar a economia brasileira com a venezuelana é uma insanidade.
Comparar o processo político venezuelano com o brasileiro é uma insanidade.
A Venezuela está iniciando seu processo de industrialização.
A indústria brasileira é sofisticada - é de ponta em alguns setores, atrasada em outros.
A agroindústria brasileira é competitiva com a de qualquer país do mundo.
Chávez banca a expansão da indústria promovendo a substituição de importações, enquanto a indústria brasileira está a caminho de tornar toda a América Latina seu principal mercado.
Além disso, por motivos óbvios as grandes corporações escolheram o Brasil para ser a sua plataforma de negócios na região.
Meu ponto é: política, econômica e socialmente o Brasil tem muitos matizes.
A elite branca e golpista - majoritariamente de São Paulo - quer se atribuir o monopólio da inteligência, da capacidade criativa e assim por diante.
Aposta na divisão maniqueísta do Brasil entre ricos e pobres.
Está provado, porém, que o apoio a Lula vai muito além dos pobres.
Na pesquisa mais recente do Datafolha, entre os brasileiros com ensino superior 36% disseram que o governo é ótimo ou bom; 34% que é razoável.
Isso é invejável: 70% dos brasileiros com formação superior acham o governo aceitável.
Entre os que ganham mais de 10 salários mínimos, 32% acham o governo ótimo ou bom e 36% regular.
Na soma, 68% dos mais ricos acham o governo aceitável.
No total, 48% dos brasileiros acham o governo ótimo ou bom; 36% dizem que é razoável.
São 84% de aprovação com ressalvas.
E isso depois do maior bombardeio midiático da história recente do Brasil.
O que a mídia e a oposição têm feito, por incompetência, má fé e partidarismo, é justamente o jogo que interessa a Lula.
Eu não faço apologia do "povo" como um ente "superior" ou dotado de inteligência suprema.
Mesmo porque eu só convivo com brasileiros de classe média.
Posso dizer, com conhecimento de causa, que a classe média com a qual convivo é muito menos politizada do que a do México e a da Colômbia, para dar apenas exemplos de países que conheço bem.
A classe média brasileira mira em seus interesses econômicos imediatos.
A classe média brasileira projeta e compra apartamentos com quartinhos de empregada sem janela e acha isso normal.
A classe média brasileira gasta mais com os bichos de estimação do que com os serviçais.
A classe média brasileira, quando pode, ainda tenta desconhecer a existência de um salário mínimo e de direitos trabalhistas.
Porém, por ser pequena, a classe média brasileira já não manda mais no Brasil.
A única saída dela é acabar com a democracia de um voto por pessoa, mas isso a
maioria dos brasileiros não aceita - ricos, remediados ou pobres.
A elite branca, golpista e minoritária - e seus aliados de classe média - podem gritar, chiar, espernear e publicar todas as manchetes que quiserem na Folha e todas as capas mentirosas que quiserem na Veja.
É inevitável: terão de conviver com a nova classe média brasileira, que está surgindo no interior e na periferia das grandes cidades e que atribui ao governo os avanços que conquistou.
A lógica é a mesma que faz a elite se agarrar desesperadamente às barras da saia de FHC, atrás de um cortezinho de imposto que seja: ninguém rasga dinheiro.
Publicado em 23 de agosto de 2007


http://viomundo.globo.com/site.php?nome=MinhaCabeca&edicao=1165

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