28/08/2007

Notícias que a Globo não dá: protesto contra racismo na Ford da Bahia


Quando supostos analistas de nossa mídia me falam em "análise de conteúdo" eu bocejo.
Eles pegam um telejornal, analisam o conteúdo e formam sua opinião.
Tiram o telejornal do contexto, como se ele existisse no vácuo.
Análise de conteúdo, em minha modesta opinião, só dá para fazer comparando o conteúdo do telejornal com as notícias mais importantes daquele dia.
Lembram-se de quando o Jornal Nacional dedicou mais de cinco minutos ao nascimento da filha da Xuxa?
Quais foram as notícias que, por isso, ficaram de fora do JN daquele dia?
Crio, a partir de agora, esta seção fixa:
As notícias que a Globo não dá.
Mas vale mandar exemplos, também, das notícias que a Record, a Band e a TV Cultura não dão.
Vocês vão ficar estarrecidos quando se derem conta da "filtragem" de notícias que acontece, de acordo com os interesses políticos e econômicos das emissoras - que, é bom lembrar, são concessões públicas - e da visão classe média-Zona Sul dos que se acham acima da lei, dos códigos de ética e do compromisso do Jornalismo com o interesse público.
Essa notícia, por exemplo, não valeu nem um segundo sequer do Bom Dia Brasil:
"27 DE AGOSTO DE 2007 - 17h24
Gerente da Ford-BA ofende negros e nordestinos e é demitido
Depois de ofender os metalúrgicos da Ford Camaçari, com xingamentos e frases preconceituosas contra negros e nordestinos, o gerente do prédio de montagem Gilberto Albuquerque, contratado da Ford há 23 anos, foi demitido por justa causa pela direção da empresa, após a paralisação de 1,5 mil funcionários da planta, que protestaram contra os atos na quinta-feira (23).
Segundo relato dos trabalhadores, Albuquerque tentou 'premiar', na quinta-feira, um dos setores da montagem, considerado por ele como o mais sujo da empresa, com um pequeno porco de cerâmica envolto em caixa de acrílico, deixando o objeto exposto sobre um armário. Indignado com a tentativa de humilhação, um dirigente sindical questionou o gerente sobre sua atitude e ouviu deste expressões como 'filho da p...' e 'vá tomar...'. Além disso, Albuquerque proferiu frases preconceituosas contra nordestinos e negros, o que gerou a revolta dos metalúrgicos.
Em reação imediata, os diretores sindicais, juntamente com os trabalhadores que testemunharam a agressão, interromperam suas atividades. Só voltariam após a retratação do gerente. Em instantes, a paralisação se estendeu por toda a montagem final. A fábrica só voltou a funcionar quando Albuquerque, natural de São Paulo, pediu desculpas publicamente ao diretor ofendido e aos trabalhadores da empresa em geral. Mas isso não impediu sua demissão.
Agora, a Federação dos Trabalhadores na Indústria Metalúrgica (Fetim-BA) entrará com uma ação na Justiça por assédio moral e danos morais contra Albuquerque e a Ford Bahia.
Paralisação
Os trabalhadores das indústrias metalúrgicas da Região Metropolitana de Salvador paralisaram mais três empresas hoje, evidenciando o descontentamento da categoria com a falta de flexibilidade dos patrões na mesa de negociações. Os cerca de 20 mil empregados do setor encontram-se em data base.
As máquinas estão paradas na Thyssen Krupp e na Jardim, ambas fornecedoras de auto-peças para a Ford Bahia, e na ABB, que faz serviços de manutenção para a montadora – todas em Camaçari. Sem esses produtos, a linha de montagem da Ford conseqüentemente deixará de funcionar ainda hoje, o que deve ocorrer no período da tarde.
Na semana passada, seguindo orientação da Federação dos Metalúrgicos da Bahia (Fetim), os trabalhadores paralisaram, também por 24 horas, as cerca de 30 empresas do Complexo Ford. Os funcionários da Caraíba Metais, em Dias D´Ávila, também cruzaram os braços.
Os metalúrgicos reivindicam aumento real, a concessão de cestas básicas , mais segurança no ambiente de trabalho e a ampliação dos benefícios sociais. Na próxima terça-feira acontece mais uma rodada de negociações na DRT (Delegacia Regional do Trabalho) de Salvador, às 10 horas.
De Salvador,Isaac Jorge

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