23/02/2008

Somente para confundir...


Imagino que entender política não seja uma coisa fácil para quem só consegue ver o mundo de forma bipolar ou maniquisticamente dividido entre o certo e errado, entre o preto e o branco ou entre o bem e o mal.

Nossa herança romana cristã nos impregnou desta dimensão parcial da vida, simplificando as coisas para ajudar a explicar o inexplicável. O que não é Deus (explicável) é Diabo (inexplicável) o que não é preto é branco, quem não é homem é mulher.

O século vinte foi quase completamente dominado por esta visão comodista e determinista, a bipolaridade política ideológica dividia o mundo em dois, capitalismo ou comunismo, direita ou esquerda. Era fácil de entender e de explicar, estava tudo no lugar.

Quando no final dos anos sessenta surge o movimento ripe, parecia que o mundo iria acabar como classificar os ripes? Seriam esquerdistas anarquistas que contestavam a tudo e a todos ou seriam comodistas alienados que ao se negarem se enquadrar contribuíam com a ordem vigente?

Até hoje lembro com saudade do folclórico Abelardo Barbosa nosso Chacrinha que com sua buzina infernal gostava de afirmar algo assim “eu não vim para explicar, vim para confundir” ou mesmo Raul Seixas, cantando que era uma metamorfose ambulante, o movimento feminista, os gays saindo do armário e Caetano Veloso sendo vaiado pela juventude “careta” de esquerda e cantando é proibido proibir, é proibido proibir...

O mundo nunca mais foi o mesmo, estava quebrada a ordem, não que estes foram os percussores do olismo, da multiplicidade, isso é parte da humanidade desde o inicio dos tempos, eles ou os ripes simplesmente botaram o século vinte de cabeça para baixo, não é pouco.

Alguns analistas de política local prezas fáceis do maniqueísmo dicotômico, tentam explicar a conjuntura da política ilheense por esses caminhos, não conseguem entender a multiplicidade de possibilidades que estão postas.

Imaginem vocês uma chapa formada por Nilton e Ruy (PSB e PT) ou Ruy e Nilton. Sem querer confundir, mas também sem pretender explicar, é preciso ver a floresta para entender a arvore, mas vendo a arvore não se entende a floresta.

Quem nasceu ontem não sabe que Ruy foi re-fundador do PSB em Ilhéus no pos-ditadura, foi seu primeiro vereador e até hoje é figura queridíssima na cúpula socialista. Será que você não sabia que Ruy já visitou Nilton duas vezes no palácio em solidariedade e apoio, que estavam juntos no carnaval no camarote oficial. Já esqueceram que Nilton convidou de forma gentil o PT para participar do seu governo.

Quem quiser que ache que o jogo ta posto, besteira ta somente começando, qual a dificuldade do PT em formar uma chapa com o PSB? Estiveram juntos em todas as eleições de Ilhéus dês de aquela em que: Antonio Olimpio derrotou Jabes (não sei por qual partido, foram tantos) e Ruy (PSB) com Nelson Simões na vice (PT).

Ou da ultima eleição em que o PSB depois de fechar com Roland, foi empurrado pelos filiados em convenção e votação interna a uma aliança com o PT em um episódio que Abobreira, Makrise e Val foram heróis.

Mais bobagem ainda é imaginar que Wagner vai ficar de fora deste baba. Quando terminou seu ultimo evento de campanha em Ilhéus na antevéspera da vitória acachapante contra ACM. Wagner, ao analisar para um grupo de companheiros que estavam com ele no Vesúvio por que venceria Paulo Souto ainda no primeiro turno, afirmou que o maior erro político de ACM foi permitir dois candidatos de sua base nas cidades do interior, ainda segundo Wagner teria sido exatamente este erro que permitiu criar a banda B do carlismo, descontentes estavam agora vindo em massa lhe apoiar.

É claro que o caminho aqui é a união da base governista, mas também caso não aconteça não será o fim dos tempos, quem sabe fazer conta sabe também que Nilton ou Ruy prefeito, quem seja, vai precisar da bancada de vereador do outro, juntos os dois partidos podaram chegar a seis vereadores em treze, portanto o caminho para uma aliança entre os dois é na verdade uma avenida larga e bem iluminada. Se quiserem as cúpulas partidárias mais uma vez PT e PSB ficaram juntos, ou não quem sabe, para que ter tanta certeza não é mesmo.


Gerson Marques


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