19/04/2008

A marcha da insensatez


Antes que me vaiem quero deixar claro que sou contra a localização da retro-área do porto e que assinei o abaixo assinado ao governador Wagner solicitando a mudança da área. Mas também fica claro que acredito que Ilhéus quer e precisa desta obra.

Não poderia deixar de me declarar impressionado com as atitudes de intolerância, arrogância e autoritarismo manifestadas por diversas pessoas que estavam presentes ao debate promovido pela deputada Ângela Souza, sobre o projeto Porto Sul na ultima quinta feira no Centro de Convenções.

Mais incrível ainda é que estas manifestações partiram exatamente das pessoas que estão a dizer por ai que o governo do estado esta agindo de forma autoritária.

Parto do principio que é necessário absoluto respeito as diferentes teses e idéias em que se divide a opinião publica ilheense sobre esta questão. Como explicar vaias a José Leite, presidente da Associação Comercial de Ilhéus, um dos mais íntegros e ilustres cidadãos desta terra, vaiado ao declarar o apoio da instituição que dirige ao projeto do porto. Afinal quem estava sendo autoritário ali?

Como já estou nesta trincheira de luta há muitos anos gostaria de registrar que pela primeira vez na historia desta cidade vejo não uma, mas pela quinta vez a vinda de autoridades do governo, - desta fez na figura de um secretario de estado Dr. Batista Neves - para debater com a comunidade um projeto ainda em gestação, não me parece ser isso sinal de intransigência.

Se há erros do governo do estado sobre essa questão o erro é de comunicação e não de condução, cabe ao governo tomar iniciativas, elaborar projetos e definir estratégias, isso o governo Wagner esta fazendo.

Durante vinte anos assistimos nossa cidade viver de promessa de governantes autoritários e falaciosos , os poucos projetos que aqui foram implantados nem de longe demonstraram o menor respeito pela natureza, basta lembrar da estrada Ilhéus – Itacaré que foi construída sem relatório de impacto ambiental ou do Centro de Convenções construído sobre dunas e restingas de uma praia, nem por isso nunca vi as pessoas que estavam ontem vaiando se quer ensaiar uma vaia a ACM ou Paulo Souto, por exemplo, ao contrario parte dos que ali estavam às vaias, são exatamente as viúvas de ACM que sempre o aplaudiram, muitas vezes ressaltando como qualidade o seu autoritarismo.

Acredito que jogamos fora mais uma oportunidade de debate e construção do consenso, o que vejo é que enquanto o governo se dispõe ao debate uma parte dos ilheenses já estão nas trincheiras de armas em punho se negando ao dialogo.

Concordo com Ruy Rocha do Floresta Viva, quando chama atenção do estado para o enorme remanescente de Mata Atlântica que esta dentro da poligonal apontada, é preocupante também a proximidade de um complexo industrial com a Lagoa Encantada. Já manifestei aqui que se o governo insistir em derrubar florestas para construí indústrias corre o risco de uma grave derrota política, este é o X da questão, é sobre isso que temos que concentrar nossos esforços.

Se concordarmos no conteúdo, tenho, no entanto profundas discordâncias na forma, a bandeira do ambientalismo sério esta a serviço de outros interesses, a somatória de especuladores imobiliários com hoteleiros de grade porte e manipulação de sentimento apaixonados esta descambando em um movimento acéfalo.

Nesse contexto as principais bandeiras que se apresentam têm caráter político, ou seja, se o projeto é de Wagner e Wagner é do PT sou contra e pronto ou de caráter pessoal do tipo na porta de meu hotel não quero, que se danem, mas meu hotel é mais importante.

Sei que não é isso que motivam a todos, volto a dizer, existem pessoas serias lutando honestamente por encontrar uma solução, defendendo com razão uma das poucas áreas de qualidade ambiental ainda protegida, pessoas interessadas em debater alternativas em defender as florestas a Lagoa Encantada e o rio Almada, pessoas que tem uma historia de luta ambiental na cidade e por isso merecem respeito e admiração. Como sei que do lado do governo existem técnicos de escritório que não entendem nem conhecem a Bahia, nem a importância de uma área como aquela.

Como muitos estavam preocupados em vaiar provavelmente não ouviram o discurso de Eduardo Mattedi, representante da Secretaria de Meio Ambiente do Estado que DESAFIOU OS ILHEENSES A FAZER HISTORIA E CONSTRUIR UM PORTO COM PARTICIPAÇÃO POPULAR.

Dialogo com participação popular e respeito ao meio ambiente são compromissos deste governo, para os que não sabem foi Wagner na condição de deputado o relator da mais moderna lei ambiental do planeta a lei da Mata Atlântica. Sendo assim não é necessário vaias basta esperar ou cobrar coerência do governador com sua historia.


Gerson Marques

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