27/02/2008

"O Brasil não gosta da diplomacia de microfones", diz Celso Amorim


Francisco Peregil Em Madri

Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do Brasil desde 2003, esteve em Madri durante quatro dias antes de partir na sexta-feira para uma turnê que o levará à Arábia Saudita, Síria e Jordânia. Assinou com a Espanha um acordo sobre ciência e tecnologia. Com os países árabes espera estreitar as relações, o que não seria mal para um país como o Brasil, onde vivem 10 milhões de árabes e que aspira a ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Amorim também assume que seu país pretende ser uma referência na América Latina.

No entanto, em um problema tão candente quanto o das Forças Revolucionárias Armadas da Colômbia (Farc), o Brasil não adotou uma posição tão clara quanto a do governo venezuelano, que defende a legitimidade diplomática para a guerrilha mais antiga do continente, nem tão contundente quanto a posição dos EUA ou da UE, para os quais as Farc são um grupo terrorista. "Não creio que haja indefinição. O que acontece é que não sentimos a necessidade de ter posições muito eloqüentes. Em muitos casos a diplomacia recomenda um pouco de discrição.

"Em vários casos na América Latina o Brasil teve um papel importante. Inclusive na Venezuela, quando houve o referendo revogatório (contra o presidente Hugo Chávez), criamos o Grupo de Amigos. No Haiti estamos presentes. Mas a questão é que o Brasil não tem a classificação de organizações terroristas. A única organização terrorista que o Brasil reconhece como tal é a Al Qaeda, e o fazemos acatando a determinação da ONU. Quando o Brasil puder atuar a favor do diálogo, o fará. Isso implica ser ativos, mas discretos. Não praticamos a diplomacia dos microfones."

Quanto às relações internacionais, Amorim não tem qualquer dúvida de como o Brasil deve se expandir. "Nossa primeira prioridade é a América do Sul. E podemos desempenhar um grande papel. De fato, nosso principal parceiro comercial é a América Latina, que abrange 26% ou 27% do nosso comércio; depois vem a União Européia, com 24%; depois os EUA, com 15%. Mas assim como nosso comércio é diversificado nossa maneira de nos integrarmos ao mundo também deve sê-lo. Nosso presidente tem uma grande capacidade de diálogo com todos os líderes, independentemente das simpatias ideológicas. Temos uma excelente relação com Cuba e com os EUA. Mas também temos uma dimensão global." O ministro das Relações Exteriores do Brasil se expressa em um espanhol perfeito, que aprendeu em seus anos de trabalho na Organização de Estados Americanos (OEA).

Celso Amorim lembra que o Brasil é o país que tem mais Institutos Cervantes no mundo, com nove centros. Lembra que o espanhol foi introduzido como matéria obrigatória no primário e no secundário, que cada vez mais brasileiros falam melhor o espanhol e gostaria que houvesse certa reciprocidade no esforço. Também recorda que a Espanha é o segundo país que mais investe no Brasil, depois dos EUA. "Agora só falta colocarmos a relação política entre os dois países no mesmo nível que a econômica."

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Nenhum comentário: