22/04/2008

Lugo eleito: agora só falta a Colômbia



Só não vê quem não quer: depois do retumbante fracasso do neoliberalismo na América Latina, os povos do continente foram mandando para casa, um a um, os governantes que realizaram, entre as décadas de 80 e a virada do século, as tais reformas neoliberais. No lugar de Cardoso, Menem, Fujimori e tantos outros menos votados, foram sendo substituídos por políticos à esquerda de seus antecessores. Sim, há os mais moderados, como no Chile e Brasil, e os mais radicais (Venezuela, Bolívia e Equador), mas o fato é que praticamente todo o continente foi varrido pela onda vermelha (ou rosa...) porque a população reprovou o que viu e viveu no final do século 20. Com a vitória do bispo Fernando Lugo no Paraguai, dos países importantes da América Latina, apenas a Colômbia ainda é governada por forças de direita (e, segundo as pesquisas, vai continuar sendo por mais um mandato, salvo surpresas).


No caso de Lugo, ainda não está claro se ele é do time dos radicais ou se a promessa de renegociar a energia de Itaipu era só bravata de campanha. No Brasil, os jornais conservadores já estão tratando o novo presidente paraguaio como uma versão piorada do "índio" Evo Morales, presidente da Bolívia. O preconceito contra os governantes mais radicais da América Latina (e contra o próprio PT, no Brasil) é antes de tudo um preconceito anti-povo: as tradicionais famílias controladoras dos grandes conglomerados de mídia do Brasil simplesmente não conseguem conceber um regime em que a massa ignara não se oriente pelas sábias palavras que seus jornalões publicam ou que seus telejornais martelam. O chato deste negócio de democracia é que com o tempo, a coisa funciona e o povão começa a levar a sério a idéia de ser dono dos seus próprios rumos. Para desespero da aristocracia midiática, aqui e no resto da América Latina também...


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Agência Brasil de Fato: Na América Latina, nós percebemos que após o vendaval do neoliberalismo dos anos 90, novos ventos políticos sopram no continente. Como o sr. interpreta essa "nova" América Latina politicamente?


Fernando Lugo: Nós vemos com bons olhos o fato de que não exista um determinado fundamentalismo de esquerda que caracterizou a década de 60 e 70. Eu creio que existe uma esquerda mais inteligente, uma esquerda que não acredita em mudanças radicais, senão nos processos de mudança gradual e creio que é isso que está acontecendo nos países. Por mais que alguns movimentos sociais tenham as suas críticas, eu acredito que as mudanças na América Latina estão acontecendo, como no governo de Tabaré Vázquez, com Lula no Brasil, Evo na Bolívia... Governos que avançam em mudanças. Mudanças que caminham na perspectiva das grandes maiorias.


Agência Brasil de Fato:Muitos consideram o movimento indígena latino-americano o novo protagonista de mudanças significativas na região, muito mais que o movimento operário.


Fernando Lugo: O movimento operário, o movimento dos trabalhadores, pelo menos no Paraguai foi cooptado pelo sistema e está muito debilitado. As centrais sindicais que já foram determinantes hoje já não o são. Sem dúvida, o elemento étnico protagonista é o movimento indígena, sobretudo nos países andinos.


Agência Brasil de Fato:Qual é a sua impressão sobre o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)?


Fernando Lugo: Creio que o movimento zapatista é um movimento histórico, "embandeirado" em Zapata, grande revolucionário da Reforma Agrária no México. O zapatismo assume um protagonismo político no México, especialmente em 1994, naquele 1º de janeiro em San Cristobal de Las Casas para se fazer perceber no mundo que é uma região marginalizada historicamente. O que é lamentável são as forças repressivas que agem de forma muito dura contra os zapatistas. Mas eu creio que o movimento revolucionário armado... não sei se tem futuro hoje na América Latina. Eu creio que os elementos de paz hoje são mais fortes para as mudanças. Creio que cada um tem a sua lógica, as suas razões, os seus argumentos para realizarem as suas lutas, mas avaliou que, na América Latina, hoje, movimentos revolucionários não têm futuro.


Agência Brasil de Fato:E o MST?


Fernando Lugo: No Brasil, penso que o MST é um movimento que acolhe as bandeiras dos excluídos. Em toda a América Latina não é possível falar em mudanças sem ter em conta a reforma agrária, o problema escandaloso da concentração de terras, como no Paraguai, por exemplo. Eu penso que o movimento sem-terra coloca em debate não apenas elementos reivindicativos, mas sim propostas por mudanças reais e creio que isso é muito positivo.


Entrevista na íntegra na

ABF

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