16/08/2007

Líder do 'Cansei" desdenha Piauí, é chamado de "tolo" e pede desculpa


Presidente da Philips, Paulo Zottolo, diz que, se o Estado deixar de existir, "ninguém vai ficar chateado'Impacto negativo da frase obrigou executivo a pedir desculpas; para governador, "acabou o tempo em que se fazia piadinha" com Estado


MÔNICA BERGAMO

COLUNISTA DA FOLHA


Uma frase do presidente da Philips, Paulo Zottolo, afirmando que "se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado", gerou constrangimento entre os organizadores do movimento "Cansei", do qual Zottolo é um dos líderes. E uniu políticos do PT, do DEM e do PMDB em críticas ao empresário. No fim da tarde de ontem, Zottolo pediu desculpas pela "frase infeliz".A declaração foi publicada ontem pelo jornal "Valor Econômico". Numa entrevista em que explicava sua adesão ao "Cansei", Zottolo afirmou: "Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir, ninguém vai ficar chateado".O governador do Piauí, Wellington Dias, do PT, reagiu afirmando que enviaria ao presidente Lula, ao Congresso Nacional, aos governadores do Nordeste e até ao governador de São Paulo, José Serra, um ofício pedindo "posicionamento de repúdio" às declarações do presidente da Philips. "Não podemos aceitar que qualquer pessoa do Brasil ou do mundo nos trate com tamanho desrespeito. Nós não aceitamos esse tipo de deboche. Ainda mais de uma multinacional com atuação em todo o país, inclusive em nosso Estado. Acabou o tempo em que se fazia piadinha com o Piauí."
Os senadores piauienses Heráclito Fortes, do DEM, e Mão Santa, do PMDB, ocuparam a tribuna do Senado para protestar. Afirmando que Zottolo é "megalomaníaco", Fortes disse que "para comandar uma campanha como o "Cansei", é preciso no mínimo ter equilíbrio e respeitar os Estados da federação. Também cansei de arrogância e prepotência".
Ao se referir a Zottolo, Mão Santa afirmou: "Ó tolo, ignorante, imbecil, cansado, a primeira capital planejada deste país foi Teresina. Eis um ignorante marcado pela própria destinação. Leia o nome dele: Zottolo. É um tolo, um arrogante tolo, porque tem uns dólares da Philips".
Depois das manifestações, o empresário telefonou ao governador Wellington Dias e ao senador Heráclito Fortes para pedir desculpas. "Foi uma frase infeliz. Eu estou me retratando", afirmou Zottolo à Folha.
O empresário diz que falou "dentro de um contexto. Eu quis dizer o seguinte: o Piauí hoje é um Estado pouco conhecido no Brasil. As pessoas não sabem o que tem no Piauí. Quando eu disse que o Piauí não faz falta, eu quis dizer que, como poucas pessoas conhecem o Estado, para eles tanto faz como tanto fez. Não é o meu caso. Eu, particularmente conheço bem o Piauí. Já fui quatro vezes ao Estado. A Philips tem um trabalho social grande no Piauí".
Zottolo prosseguiu: "O que eu quis dizer foi isso: o Piauí é desconhecido, e eu não quero que o Brasil seja um Piauí. O brasileiro tem que conhecer o brasileiro. E o objetivo do "Cansei" é despertar dentro de nós mesmos o entendimento de por que nós estamos de repente parados, e não consternados, com toda essa situação. Talvez seja a falta de conhecimento nosso mesmo. E foi aí que entrou a história do Piauí, entendeu? O Piauí é um Estado que tanto faz como tanto fez, no sentido de que o brasileiro o conhece pouco".
O ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo (DEM) reprovou as declarações do presidente da Philips. "Só fala mal do Piauí quem não conhece a história do Brasil", diz ele. "O homem americano nasceu no Piauí e bandeirantes paulistas colonizaram o Estado. Quem fala mal do meu Piauí querido não sabe nada do Brasil."

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