16/08/2007

Quem vem com tudo não cansa


por Marcelo Gavião*


Idealizado por setores historicamente ligados ao pensamento de direita em nosso país, o Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, o ''Cansei'', realizou no último dia 17 de agosto, um ato público na Catedral da Sé, em São Paulo. O ato liderado pelo presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, e por vários grandes empresários e artistas tinha como objetivo impulsionar a criação de um movimento que resultasse no ''Fora Lula!''.


Mais uma vez, fantasiados da dor do nosso povo diante das mortes causadas pelo acidente do vôo da TAM, setores da elite brasileira tentam desencadear um movimento ''popular'' de oposição ao governo Lula. Os organizadores do movimento, contudo, negam tal vínculo. Afinal, o que está por traz do ''Cansei''? Como surge esse movimento? Quais suas raízes históricas?


O ''Cansei'' tomou forma dentro do escritório do empresário João Doria Jr, que em 2006 promoveu almoços para arrecadar recursos para a campanha de Alckmin à Presidência da República. Entre os slogans do grupo estão frases como ''cansei do caos aéreo'' e ''de CPIs que não dão em nada''. E qual a saída para tanto ''cansaço'' apontada pelo movimento? O ''Fora Lula!'', ecoado pelas ruas de classe média alta de São Paulo na caminhada realizada no dia 31 de julho.


Curiosidades sobre o formato:


Parece mesmo não ser à toa as comparações que têm surgido entre o movimento ''cansei'' e a Marcha da Família com Deus pela Liberdade que no ano de 1964, - ano do início da ditadura militar no Brasil - protagonizou uma série de manifestações públicas organizadas em resposta ao comício realizado no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964, durante o qual, o presidente João Goulart anunciou seu programa de reformas de base. Congregou segmentos da classe média, temerosos do ''perigo comunista'' e favoráveis à deposição do Presidente da República.


As coincidências não param por aí: Os métodos utilizados na época pelo IPES -Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais para fazer com que houvesse manifestações eram simples, e me parece que a OAB-SP aprendeu direito a lição. Primeiro foram convocadas as esposas de empresários, doutrinadas sobre como o comunismo poderia ser prejudicial a elas e, principalmente a seus filhos. Em seguida foram convocadas as esposas dos empregados das empresas participantes, sendo as mulheres doutrinadas pelas esposas dos patrões em reuniões de senhoras com fins filantrópicos e religiosos.


A sociedade cristã foi mobilizada para a primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Dela participaram milhares de pessoas no dia 19 de Março de 1964. A massa humana saiu da praça da República chegando à praça da Sé onde foi rezada uma missa pela ''salvação da Democracia'', conduzida pelo padre Patrick Peyton, capelão do Exército estadunidense, enviado pelo governo dos Estados Unidos.


A exemplo do que faz agora a OAB-SP no ''Cansei'', a propaganda do IPES baseava-se na égide da defesa da moral e dos bons costumes da família brasileira, do direito à propriedade privada e à livre iniciativa empresarial, além de estimular a ampla participação de investidores estrangeiros na economia brasileira.


Dentre os métodos utilizados pelo IPES para mobilizar a população contra o trabalhismo de Goulart, houve palestras direcionadas às mães e donas de casa alertando para o possível dano que o comunismo causaria a entidade familiar. Aliás, muitas palestras, panfletos, documentários e livros foram feitos no sentido de difundir uma ''racionalidade'' ideológica capaz de convencer as pessoas sobre a suposta falência do governo Goulart.


Por fim, um elemento que aparentemente é diferente do passado.O IPES mantinha contato estreito com a Igreja Católica o que fez com que em 64 a Catedral da Sé abrisse as portas para a realização do ato, algo que não se repetiu no movimento ''cansei''. O IPES desapareceu em 1972, quando o AI-5 parecia ter controlado todos os focos de manifestação anti-direita no país.


É preciso que a sociedade brasileira denuncie com força o caráter e o objetivo desse movimento. O centro da sua atuação é a desestabilização e até a deposição do governo Lula, a elite não se conforma com o fato de ter perdido as duas últimas eleições presidenciais.


Temos noção dos erros cometidos pelo PT, e por isso lamentamos e repudiamos todos eles. Sabemos também da falta de convicção revolucionária do governo Lula. Contudo, temos sido testemunha ocular do esforço do presidente Lula em diminuir as desigualdades sociais e melhorar as condições de vida dos milhares de brasileiros.


O que esta em curso agora é uma forte movimentação da direita que busca construir seu retorno ao comando central do Brasil o mais rápido possível.


Para nós, jovens do campo ou da cidade, do morro ou do asfalto, das escolas ou universidades, empregados ou desempregados fica a certeza de que nossa luta central nesse momento deve ser a de fazer ecoar em uma só voz, pelos quatro cantos do país que ''Quem vem com tudo não cansa e é proibido dobrar à direita!''.


*Marcelo Gavião, Presidente Nacional da UJS - União da Juventude Socialista

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