07/05/2007

Globo pode estar envolvida no caso da operação furacão


O programa Domingo Espetacular da Rede Record de Televisão exibiu neste domingo, dia 06, reportagem de Paulo Henrique Amorim que reproduz gravações que a Polícia Federal fez e que deverão ser encaminhadas, também pelo Ministério Público, à Justiça.

As gravações revelam os mecanismos da compra de sentenças no Brasil. Como os criminosos usam intermediários (os "amigos") para negociar com os juízes. E como juízes se comportam na relação com o crime. A rotina, o dia-a-dia da corrupção, visto da sala dos juízes.

As gravações não provam nada, diz Paulo Henrique Amorim na reportagem. Elas são elementos que a Justiça julgará. Ou seja, a Justiça, que está no banco dos réus, julgará a própria Justiça.
Veja a seguir trechos da reportagem que a Record acaba de exibir:
A primeira gravação que a reportagem apresenta é do advogado Virgílio Medina, irmão do Ministro Paulo Medina, do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Na gravação, o advogado usa a palavra “sucesso”.

“200 (mil) agora, 400 (mil) com sucesso”, diz Virgílio Medina na gravação quando se referiu ao valor das sentenças.

“Sucesso é o criminoso conseguir o que quer: e nas últimas semanas, os brasileiros descobriram que, nesse caso, isso (sucesso) significa se livrar da cadeia e manter um negócio ilícito: por exemplo, manter um bingo aberto, liberar uma máquina caça-níquel”, disse a reportagem do Domingo Espetacular.

As gravações às quais o Domingo Espetacular teve acesso desencadearam a Operação Furacão, da Polícia Federal. O trabalho da PF prendeu três juízes e provocou o afastamento do Ministro Paulo Medina, do STJ.

“Estão todos soltos”, disse Paulo Henrique Amorim.
A reportagem do Domingo Espetacular mostra o “fio da meada”:

“Chico Recarey era o rei da noite no rio. Mas não gostava de pagar imposto. Foi preso. Como soltar Chico Recarey? O filho Chiquinho entrou em ação”, disse a reportagem.

Depois, o Domingo Espetacular apresentou a gravação de uma conversa de Chiquinho com o advogado Sérgio, amigo de um juiz: o desembargador Carreira Alvim.

Na gravação, Sérgio diz que conversou com ele (Alvim), “só que ele está sem tempo de proferir a decisão hoje. Mas ele está predisposto a dar a decisão favorável”.

“Carreira Alvim decidiu como previsto. Mas há juízes e há juízes. Uma juíza da quarta vara pediu para ver a decisão. O filho de Recarey,Chiquinho, ficou bravo. Ele comprou a sentença e não levou”.

Na gravação, Chiquinho fala que está bravo por conta “daquela mulher”. Ele diz que ela não pode apreciar a decisão, e sim acatar. Que alguém poderia estar pagando para fazer maldade com o pai dele.

“José Eduardo Carreira Alvim é desembargador do Tribunal Regional Federal do Rio. Ele foi um dos presos na operação furacão. Está solto.

E por que a polícia federal ficou de olho nele?

O desembargador Carreira Alvim tomou duas decisões suspeitas em curto espaço de tempo. Mandou soltar Chico Recarey. E mandou liberar novecentas máquinas de caça-níqueis. Essas máquinas estão programadas para tomar dinheiro do apostador. Você sempre perde mais do que ganha. E por isso deveriam ser proibidas”.

A reportagem do Domingo Espetacular mostra como “a Operação Furacão chegou à segunda mais alta corte de Justiça do Brasil, o Superior Tribunal de Justiça. Chegou pelas mãos de um advogado, Virgílio Medina, irmão do juiz Paulo Medina”.

A reportagem mostra gravações de Virgílio Medina ao negociar e fixar o preço para conseguir uma sentença: R$ 200 mil de “entrada” e R$ 400 mil se o esquema tiver sucesso.

“A conversa é sobre liberar máquinas caça-níqueis. E os amigos também brigam. Um deles tentou passar na frente dos outros para ganhar sozinho. Deu a maior confusão”.

A reportagem diz também que “poucos dias depois, o juiz Paulo Medina liberou novecentos caça-níqueis. Na decisão, ele se mostrou preocupado com o ‘prejuízo econômico’ dos contraventores”.

Outro preso na Operação Furacão foi o juiz do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de Campinas, Pinto Dória. O Domingo Espetacular veiculou uma gravação na qual Dória pede ajuda a um pai-de-santo. “Ele quer receber logo o dinheiro que o representante de um bingo, um certo Jaime, tinha prometido”.

O juiz Dória gosta de falar ao telefone e de dizer que é importante:

“Eu sou amigo dos filhos do Roberto Marinho”, disse Dória na gravação.
“O juiz Dória se mostra irritado quando outros juízes prometem e não cumprem. Também reclama porque os juízes passaram a brigar e espionar uns aos outros”.

Em outra conversa, o juiz Dória diz que exige dinheiro dos bingos todo mês. E quando não pagam, ele diz que sabe como reagir. Na gravação, Dória “fala que ia mandar a Globo nos bingos do Jaime e diz que ele tinha que dar dinheiro para ele todo mês”.

A reportagem do Domingo Espetacular mostrou a gravação em áudio de tudo e fala também da Operação Têmis:

“Na outra operação contra a corrupção na Justiça, a Operação Têmis, ninguém foi preso. Mas a Polícia Federal vasculhou os gabinetes de juízes do Tribunal Regional Federal de São Paulo. O motivo, mais uma vez, foram as suspeitas levantadas pela escuta telefônica”.

Depois, a reportagem mostra uma “gravação de um representante dos bingos que diz a um advogado que não pode pagar mais por uma causa. Motivo: uma parte do dinheiro vai para o juiz”.

“50 mil por casa (de bingo). Os outros 100 (mil) tem que dividir com o juiz, que ficará com 70 (mil) e os 30 (mil) restantes divididos entre ele e Luiz”, disse o representante dos bingos.

A reportagem mostra que pelo número da ação (200661000229079), a Polícia Federal chegou ao juiz Djalma Moreira Gomes. “Na Operação Têmis, a Polícia Federal queria prender cem pessoas. A notícia da Operação vazou. E os suspeitos tiveram tempo de se prevenir. Houve fugas, destruição de documentos e, claro, recursos à Justiça. Resultado: ninguém foi preso. Na operação furacão, também houve vazamento. Mas o tempo foi curto: as prisões aconteceram”.

A reportagem mostra uma gravação que prova que os bicheiros souberam antes da Operação. “É a conversa de dois policiais que foram presos porque trabalhavam para os bicheiros”.

“Essas gravações não provam a culpa de ninguém. São elementos que a Polícia Federal e o Ministério Público vão encaminhar à Justiça. Juízes vão julgar Juízes”, disse Paulo Henrique Amorim.

A reportagem do Domingo Espetacular foi a mais completa sobre a Operação Furacão. Mostrou gravações e como a PF fez para chegar à corrupção na Justiça.

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