27/04/2007

Cacau baiano vira modelo de 'econegócio'


Na Bahia, produtores que cultivam cacaueiros em meio às árvores da Mata Atlantica já detêem mais da metade da produção do Estado

ALAN INFANTE
da PrimaPagina



Os cacaueiros que crescem sob as árvores da Mata Atlântica geram lucro e ainda garantem a conservação de grande parte do bioma, que já teve mais de 92% de sua cobertura original devastada. Essa exploração econômica sustentável das florestas se estende por mais de 500 mil hectares do Estado da Bahia e que virou modelo de produção sustentável. A prática ainda pode ajudar nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio — uma série de metas que os países da ONU se comprometeram a atingir até 2015, abrangendo áreas como meio ambiente e pobreza.

Uma iniciativa coordenada por um dos produtores da região pretende conquistar a preferência dos consumidores de chocolate para impulsionar o econegócio. “O projeto Fazenda de Chocolate tem o objetivo de agregar valor ao cacau produzido em ambientes de altíssima biodiversidade”, afirma Eduardo Athayde, diretor da UMA e da unidade brasileira do WWI (Worldwatch Institute), realizadores da iniciativa. Segundo ele, a procedência do chocolate estampada na embalagem permitiria que os consumidores optassem pelo produto que contribui para conservar o meio ambiente.

Athayde defende que, conquistando a preferência do consumidor, o econegócio, além de ser mais lucrativo, aumentaria a participação dos fazendeiros no faturamento do setor de chocolate. “Esse mercado movimenta cerca de US$ 60 bilhões por ano, mas apenas 3,3% disso vai para os produtores de cacau. No interior da Bahia, o quilo do cacau é vendido a R$ 4 e, no porto de Ilhéus, o chocolate é vendido a R$ 80. Isso é 200 vezes mais”, reclama. Atualmente, a Bahia é responsável por 4,25% de todo o cacau produzido no mundo. Desse total, entre 50% e 60% é cultivado em sistema agroflorestal.

Conhecida como cabruca, a técnica de cultivar os cacaueiros entre a vegetação nativa da Mata Atlântica, além de ser ecologicamente correta, poupa trabalho e melhora a qualidade do fruto, aponta um estudo do WWI. O sistema dispensa a derrubada de árvores imensas, diminui o risco de propagação de pragas e garante à planta as condições de umidade e temperatura adequadas, além de um solo rico em nutrientes, obtidos a partir da decomposição das folhas que caem no solo.

O diretor da UMA ressalta que a estratégia para conquistar a preferência dos consumidores é atacar com publicidade. “Perguntamos a mestres chocolateiros de todo o mundo o que era chocolate e cada um nos deu uma resposta diferente. Concluímos então que o chocolate é basicamente cacau e marketing. Temos que estimular, então, o ato do consumo sustentável”, afirma.

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