24/04/2007

Lula espera juro real de 6% até o final do ano


KENNEDY ALENCAR
Folha de S. Paulo


Para Planalto, trocas no BC devem reduzir conservadorismo

A expectativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que a taxa real de juros básicos em dezembro esteja em cerca de 6% ao ano. Isso significaria uma taxa Selic nominal de cerca de 10%. Hoje a Selic está em 12,5% ao ano -taxa real ligeiramente superior a 8%.Essa é a previsão de uma ala do governo que avalia que esse cenário será possível devido à combinação das trocas na direção da instituição, o alto valor do real em relação ao dólar e a continuidade de um cenário externo favorável.As saídas de Afonso Bevilaqua da diretoria de Política Econômica e a de Rodrigo Azevedo da diretoria de Política Monetária, as duas mais importantes do BC, são vistas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como um sinal de que os juros poderão cair mais celeremente. Essa é também a visão de Lula e alguns auxiliares.


Os substitutos de ambos seriam homens do mercado, mas com visão menos conservadora do que da dupla que saiu.Apesar de o BC ter aumentado neste ano o volume de compra de dólares, a fim de valorizar a cotação da moeda americana e aumentar suas reservas, o efeito sobre o câmbio tem sido praticamente inócuo. Para o Planalto, uma queda mais rápida dos juros ajudaria a levar o dólar de volta para um patamar entre R$ 2,15 e R$ 2,20.Mais: com a diminuição do risco-país e a possibilidade de o Brasil receber o chamado "investment grade" (recomendação para investimento dada por agências de risco americanas), haveria mais estímulo à entrada de dólares no país. Logo, existiriam mais argumentos técnicos para baixar os juros mais rapidamente. E o "investment grade", uma boa notícia, poderia ter um efeito "negativo" para alguns setores da economia, sobretudo o exportador: valorizar ainda mais o real.


A última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do BC que se reúne a cada 45 dias para fixar a Selic, teria dado um indicativo pró-queda mais célere dos juros. Dos sete diretores presentes, quatro votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual e três por diminuição de 0,5 ponto percentual.Lula e alguns ministros avaliam que o Copom poderia ter optado por 0,5 ponto percentual, mas interpretaram o placar como sinal de que há espaço para quedas desse tamanho nas próximas reuniões.


Meta de inflação


A área econômica já travou alguns debates internos a respeito da meta de inflação de 2009, que precisará ser fixada até o final de junho. Há grande chance de o governo optar por 4% ao ano.Atualmente, a meta é de 4,5%, com intervalo de variação de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Seria uma redução para sinalizar a continuidade da preocupação de Lula em manter a inflação sobre controle.Os ministros Mantega e Paulo Bernardo (Planejamento) deverão discutir o assunto com Lula em breve.


O presidente do BC, Henrique Meirelles, também participará da decisão. Com um meta de inflação menor, aumentará o espaço para a redução de juros.

Nenhum comentário: